Gazette du Midi perante o Espiritismo
Crítica a Propósito dos Irmãos Davenport
(2o artigo)

A agitação causada pelos irmãos Davenport começa a acalmar-se. Após a saraivada lançada pela imprensa contra eles e o Espiritismo, restam apenas alguns atiradores que, aqui e ali, queimam os últimos cartuchos, à espera de que outro assunto venha alimentar a curiosidade pública. De quem será a vitória? O Espiritismo está morto? É o que não tardarão a saber. Suponhamos que a crítica tenha matado os Srs. Davenport, o que não nos diz respeito; que resultado teria isto? O que dissemos em nosso artigo anterior. Em sua ignorância do que é o Espiritismo, ela atirou sobre aqueles senhores, exatamente como um caçador que atira num gato pensando atirar numa lebre: o gato morreu, mas a lebre corre sempre.

Dá-se o mesmo com o Espiritismo, que não foi nem podia ser atingido pelos golpes que caíam de lado. A crítica, pois, equivocou-se, o que teria evitado facilmente se se tivesse dado ao trabalho de verificar a etiqueta. Contudo, não lhe faltaram avisos; alguns escritores até confessaram a influência das refutações que
lhes chegavam de todos os lados, e isto da parte das mais honradas pessoas. Isto não lhes deveria ter aberto os olhos? Mas, não; haviam se embrenhado por um caminho e não queriam recuar; era preciso ter razão, custasse o que custasse. Muitas dessas refutações nos foram dirigidas; todas se distinguiam por uma moderação que contrasta com a linguagem dos nossos adversários e, em sua maioria, são de perfeita justeza de apreciação. Certamente ninguém pretendeu impor sua opinião àqueles senhores; mas a imparcialidade sempre impõe um dever admitir as retificações para pôr o público em condições de julgar os prós e os contras. Ora, como é mais cômodo ter razão quando se fala sozinho, pouquíssimas dessas publicações viram a luz da publicidade. Quem sabe mesmo se a maior parte foi lida? Então é preciso ser grato aos jornais que se mostraram menos exclusivos. Neste número está o Journal des Pyrénées-Orientales que, em seu número de 8 de outubro, contém a seguinte carta:

“Perpignan, 5 de outubro de 1865.

“Senhor Gerente,

“Não venho me lançar na polêmica; apenas solicito de vossa eqüidade que me permita, uma única vez, responder aos vivos ataques contidos na carta parisiense, publicada no último número de vosso jornal, contra os espíritas e o Espiritismo.

“Como os verdadeiros católicos, os verdadeiros espíritas não dão espetáculo público; estão penetrados do respeito de sua fé, aspiram ao progresso moral de todos e sabem que não é nos teatros de feira que se fazem prosélitos.

“Eis o que concerne aos irmãos Davenport.

“Haveria muito a dizer para refutar os erros do autor desses ataques irônicos; apenas direi que, tendo Deus dado ao homem o livre-arbítrio, atentar contra sua liberdade de crer, de pensar é colocar-se acima de Deus e, por conseguinte, um enorme pecado do orgulho.

“Dizer que esta nova ciência fez imensos progressos, que muitas cidades contam grande número de adeptos, que têm suas sedes, seus presidentes, e que suas reuniões incluem homens cultos, eminentes por sua posição na sociedade civil e militar, na advocacia, na magistratura, não é confessar que o Espiritismo está baseado na verdade?

“Se o Espiritismo não passa de um erro, por que se ocupam tanto com ele? O erro tem apenas uma duração efêmera, é um fogo-fátuo, que dura algumas horas e desaparece. Se, ao contrário, é uma verdade, por mais que façais, nem o podereis
destruir nem o deter. A verdade é como a luz: só os cegos lhe negam a beleza.

“Dizem também que o Espiritismo provocou casos de alienação mental. Direi isto: o Espiritismo não causou mais loucura que o Cristianismo e os demais cultos, que não podem ser responsabilizados pelos casos de idiotismo que se encontram muitas vezes entre os praticantes das diversas religiões; os espíritos transtornados estão sujeitos à exaltação e à perturbação. Deixemos, pois, de uma vez por todas, esse último argumento no arsenal das armas fora de uso.

“Termino esta resposta dizendo que o Espiritismo nada vem destruir, a não ser a crença nos castigos eternos. Ele fortalece a nossa fé em Deus; torna evidente que a alma é imortal e que o Espírito se depura e progride pelas reencarnações; prova-nos que as diferentes posições sociais têm sua razão de ser; ensina-nos a suportar nossas provações, sejam quais forem; enfim, demonstra-nos que um só caminho nos leva a Deus: o amor do bem, a caridade!

“Aceitai, Senhor Gerente, meus agradecimentos e minhas atenciosas saudações.

“Tenho a honra de ser o vosso servo.”

Breux

Todas as refutações que temos sob os olhos, e que foram dirigidas aos jornais, protestam contra a confusão que fizeram entre o Espiritismo e as sessões dos Srs. Davenport. Se, pois, a crítica persiste em prestar-lhe solidariedade, é porque quer.

Nota – Num outro artigo, que a falta de espaço nos obriga a adiar para o próximo número, examinaremos as proposições mais importantes que ressaltam da polêmica suscitada a propósito dos Srs. Davenport.

R.E. , novembro de 1865, p. 438